sábado, 16 de fevereiro de 2008

Guia de Turismo Sádico em Cuba

Se você é uma das tantas pessoas que pretende “ir a Cuba antes que Fidel morra”, a revista Viagem & Sadismo preparou uma reportagem com a sua cara. Por causa da teimosia dos comunistas e do embargo americano, a paradisíaca ilha caribenha virou atração perfeita para sádicos de esquerda vindos de todos os recantos do mundo. Por isso não poderíamos deixar de ir até lá para ver de perto como é belo o sofrimento dos cubanos. Confira abaixo o que descobrimos. E boa viagem!

Pé na estrada
Com a falta de gasolina na ilha, muitos cubanos precisam viajar a pé por centenas de quilômetros. No caminho, eles são atacados por cobras, enfrentam tempestades caribenhas e andam horas num sol de rachar. Uma atração imperdível, que você pode conferir a qualquer hora do dia e sem gastar nada!

Belas da tarde (e da noite)
Aqui em Cuba nenhum marido precisa pedir para a mulher se fingir de prostituta para satisfazer seus instintos sádicos. Qualquer dona de casa, médica, engenheira ou jornalista cubana é prostituta de verdade, pelo menos durante algumas horas por dia. Para não cair em roubadas, procure as prostitutas com marcas de surras ou com um olho roxo – essas sofrem sem reclamar.

Hospedagem
Só dá para conhecer de verdade o sofrimento da ilha se hospedando na casa de um cubano legítimo, sofredor. É uma experiência interessantíssima. Eles quase não têm móveis em casa, comem pouco para economizar e mal sabem o que são eletrodomésticos. Cuidado: se você for pego rindo deles, a coisa pode ficar mal.

O melhor: as prisões
Se você tiver sorte e conhecer algum oficial do governo cubano, peça a ele para te levar nas prisões. São piores que as brasileiras! E o melhor: muitos dos presos só estão lá por que falaram mal do Pinochet (ops!), quer dizer, do Fidel. Para deixá-los um pouquinho mais nervosos, apareça por lá com uma camiseta do Che Guevara. Vão sofrer ainda mais!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Encontro com a Culpa

Uma noite dessas, andando pela Alfonso Bovero, ali pra baixo da MTV, topei com ela, a Culpa. Estava entre os mendigos que dormem embaixo de uma marquise, enrolada num cobertor e tentando não se importar com o frio. Me aproximei:

- Culpa! É você?
Ela abriu os olhos com cara de vontade de conversar.
- Ô, rapaz, beleza?
- Que saudade, Culpa – você nunca mais foi me acordar depois daquelas bebedeiras em que eu fazia tanta besteira...
- Pois é. Percebi que o senhor não gostava das minhas visitas. Pois não é o único. Ninguém mais quer que eu apareça. Todo mundo acha que pode viver sem mim.
- Que é isso, Culpa, eu te considero pra caramba.
- Mas o senhor não reparou? Estou numa baixa danada. Os sexólogos, as propagandas de TV, as revistas de bem-estar, todo mundo fica dizendo “Livre-se da Culpa, livre-se da Culpa!” As mulheres infiéis, os políticos traidores, os policiais covardes e principalmente os jovens... ninguém mais fica culpado. É por isso estou aqui, abandonada como um mendigo.
- Mas... mas e o suicida? E a velhinha católica?
- O suicida morreu. E a velhinha católica até sente culpa, mas do que ela me serve? Não faz nada de errado, não dá nenhum espaço para eu corrigir seu caminho. Se pelo menos as pessoas ainda acreditassem em Deus. Se pelo menos Nelson Rodrigues ainda estivesse vivo, para dizer que, sem mim, estaríamos de quatro, urrando no bosque...
- E os criminosos?
- Ah, já desisti deles. Depois que um monte de gente começou a falar que crime é coisa da sociedade, que os ladrões não devem ter culpa, depois disso nenhum criminosinho cruel, nenhum Raskolnikov vai mais com a minha cara. Até as crianças e os adolescentes acham que podem numa boa roubar o tênis de quem passa na rua.
- Mas, Culpa, você não pensou, sei lá, em atingir outro publico?
- Tentei. Uma vez, vi uma moça dentro de uma Mercedes que ficou bem triste ao avistar um pobre. Daí pensei que poderia haver muitos ricos bem propensos a andar comigo. Até deu certo – você não reparou que muita gente rica e até de classe média anda culpada por não ser pobre?
- Pois é...
- Por uns meses, eu fazia muito sucesso aqui nessa região, principalmente ali na Vila Madalena. Mas daí desencanei. Só rico com QI baixo tem culpa por não ser pobre. É bem chato – eles só falam sobre as férias no Nordeste, só vêem filme francês e ficam o dia todo ouvindo MPB... Uma noite, depois do terceiro cd da Maria Bethania, eu perdi a paciência e fui embora. Agora aqui estou eu, tentando sobreviver. E quer saber o que é pior?
- O quê?
- Ando me sentido culpada.